Um registro em madeira, realizado na Idade Média, ilustra um homem cego, conduzido por um cão em uma coleira, provando que relação entre cães e seres humanos portadores de deficiência visual é muito sincera, e antiga. Os cães-guias foram relatados em alguns versos populares datados do século 16 e mencionados em livros sobre educação para cegos no século 19.
A adoção do cão guia começou a ser feita, de forma mais representativa, na época da Primeira Grande Guerra, momento este em que muitos soldados acabaram cegos. O médico alemão, Dr. Stalling, foi o precursor dessa ideia. Tempos depois, em 1916, a primeira escola de cães-guia do mundo foi fundada na Alemanha. Tal iniciativa foi logo seguida pela Grã-Bretanha e Estados Unidos. No Brasil, o cão-guia surgiu algumas décadas depois.
Os cães-guias fornecem mais segurança e agilidade aos deficientes visuais. Além de melhorar a qualidade de vida, eles facilitam o acesso destas pessoas ao mercado de trabalho, proporcionando mais independência, promovendo a autoestima.
Uma das maiores vantagens do cão-guia em relação à bengala é a possibilidade de desviar de objetos acima do chão.Eles conduzem seu parceiro muitas horas por dia, inclusive parando em meios-fios antes de atravessarem ruas, evitam os declives, buracos ou mesmo galhos de árvores, desviam de obstáculos - mesmo os aéreos, como orelhões - atravessam ruas, memorizam trajetos usuais. São capazes de levar os donos, por exemplo, até a porta do trabalho e, dentro do prédio, localizar o elevador, o banheiro e o bebedouro.
Reconhecem um lugar novo em poucos dias, facilitando a adaptação e evitando que o deficiente dependa da ajuda de terceiros. Para não atrapalhar sua concentração, ninguém deve alimentar ou brincar com o animal durante o seu percurso, nem pegar no braço do dono: quando isso acontece, o cão entende que há outro guia e deixa de exercer a função.
O dia 27 de abril é considerado o Dia internacional do Cão Guia , porém no Brasil é difícil encontrar com pessoas com deficiência visual utilizando um cão-guia. São poucos os privilegiados que podem desfrutar desse recurso de mobilidade. O deficiente visual que pensa em trocar a bengala por um cão-guia tem duas alternativas : aguardar pacientemente na fila de espera de uma ONG brasileira ou cadastrar-se em entidades treinadoras no exterior.
As raças mais utilizadas para cão-guia são os golden retrievers, labradores e pastores alemães, sendo que as duas primeiras são reconhecidas como excelentes cães-guias, devido a sua inteligência, ética, rápido amadurecimento e capacidade de se adaptar a diferentes situações. Além de saúde perfeita, o animal tem que ser isento de agressividade. Para que trabalhe corretamente, o animal precisa seguir a rotina rígida, receber alimentos nos horários corretos, além de fazer visitas frequentes ao veterinário .
O treinamento para que o deficiente visual comece a utilizar este recurso pode ser realizado no lar, num centro residencial de reabilitação ou numa combinação de ambos.O animal precisa realizar um reforço do aprendizado três vezes no primeiro ano. Anualmente, do segundo ano em diante e revertendo para 4 vezes por mês quando o cão estiver se aproximando da aposentadoria.
O direito de ir e vir é garantido pela Constituição brasileira, inclusive para aquelas pessoas com algum tipo de limitação. Esses animais, que são especiais, também têm o direito de ir e vir. E garantido por uma lei federal, a de nº 11.126, assinada em 2005. Tanto os cães que já estão trabalhando, quanto os que estão sendo socializados precisam apresentar alguns documentos, caso seja requisitado, para ter o acesso liberado.
Apesar da lei, o deficiente visual e seu companheiro ainda enfrentam obstáculos. A lei diz que a pessoa que tentar dificultar o acesso do cão-guia está sujeita a aplicação de penalidade. No caso de taxistas que se recusem a prestar serviço, deve-se acionar o DTP (Departamento de Transporte Público) e registrar a denúncia. A multa para quem descumprir a lei pode variar de R$ 1 mil a R$ 50 mil. Se for um estabelecimento, a pena pode ser o fechamento.
Pessoas cegas enfrentam outra situação muito difícil , o envelhecimento do animal e necessidade de aposentá-lo. Normalmente, um cão-guia trabalha entre oito e dez anos. O dia 26 de agosto será especial para o brasiliense Leonardo Moreno, 32, e o pernambucano Arthur Calazans, 46. Os dois são deficientes visuais e estarão na Associação dos Delegados da Polícia Federal, em Brasília, para uma cerimônia onde receberão seus novos cães-guia. Desta vez, tratam-se de dois jovens cães-guia que irão substituir os Labradores Cirus e Jasmin, que cumpriram com dedicação cerca de 9 anos junto a Leonardo e Arthur.
Os dois cães a serem entregues também são da raça Labrador, e passaram por todo o preparo de praxe de cães-guia do Projeto Cão-Guia de Cegos do Distrito Federal. Eles viveram com famílias hospedeiras voluntárias por cerca de um ano, até atingirem a idade para o treinamento técnico. Essa etapa acontece por meio de uma parceria com profissionais do Corpo de Bombeiros .
Segundo Maria Lúcia de Campos, o Projeto Cão-Guia de Cegos do Distrito Federal já entregou 47 cães-guia para deficientes visuais no DF e outros Estados desde 2002. Em média, ocorrem três entregas por ano e a ação de preparo envolve o esforço de muita gente. Atualmente, existem 8 cães em fase inicial de treinamento, 3 cães prontos e uma lista de espera de 300 pessoas aguardando um cão-guia.
Na cidade de Sapporo, no Japão, foi criado em 1978 por uma associação que cuida dos cães-guias, um asilo para cuidar dos cães que se aposentam, mais de 200 animais viveram seus últimos anos de vida no local.
No Brasil a primeira dificuldade é encontrar outro cão treinado para entregar a um deficiente visual. Saber qual é o destino deles, depois de aposentados é uma grande desafio. Eles merecem ser tratados sempre com muito respeito e carinho, jamais poderão se sentirem abandonados depois de ter dedicado toda sua vida a esta nobre missão.
Autoria : Vininha F. Carvalho
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